segunda-feira, 2 de junho de 2014

Sobre a Stock Car e seus carros de brinquedo

Cacá Bueno chega ao final da prova neste estado: é possível levar a sério? 

Tinha algum tempo que eu não me sentava à frente da TV para assistir a uma corrida completa da Stock Car. Fiz isso ontem, para ver a rodada dupla disputada em Goiânia, com vitórias de Felipe Fraga, na primeira prova e de Thiago Camilo, na segunda.

Primeiro os elogios. As corridas foram boas, com muitas brigas e ultrapassagens. Há uma qualidade humana inegável na Stock, como foi comentado durante a transmissão. De fato, os pilotos são muito bons, é difícil ver alguém fazendo barbeiragens, com uma ou outra exceção. Mas o grande elogio mesmo fica para a pista, reinaugurada depois de uma enorme reforma. O resultado é excelente: asfalto ótimo, boa estrutura, muita gente assistindo, um oásis no combalido automobilismo brasileiro.

Mas tem uma coisa que me incomoda na Stock e que, pelo jeito, não mudou: o fato dos carros irem se desintegrando ao longo da prova. É um verdadeiro festival de pneus estourando, carenagens se arrebentando, spoilers pendurados, capôs balançando com o vento. Me passa uma incômoda sensação de fragilidade, como se os carros da Stock Car fossem de brinquedo. É preciso dar um jeito nisso.

Na época que fazia o programa Grid GP, na rádio Fumec, ao lado dos companheiros Fábio Campos e Luis Fernando Ramos, comentávamos muito sobre o fato da Stock ter adotado esse chassi tubular carenado que acabou viabilizando a categoria economicamente. De fato foi um movimento positivo que fez com que a categoria crescesse, contasse com mais de 30 carros no grid, a maioria andando no mesmo segundo.

A competitividade da Stock atrai a atenção do público, mas ela logo se dissipa quando o espectador vê que os carros parecem de brinquedo. Não dá pra ver Cacá Bueno chegar ao final da segunda corrida com o carro todo destruído por causa de um pneu furado na primeira prova. Automobilismo, em geral, precisa trazer sensação de robustez e a Stock é um lixo neste ponto. E não é porque é categoria de turismo, que tem muitos toques mesmo, que se pode admitir isso. A Nascar não sofre com este problema, nem o WTCC e nem o DTM. E, no Brasil, isso também não acontece no brasileiro de marcas.

Outra coisa a se considerar: essa regra adotada para a rodada dupla é complicada demais. Rodada dupla é um negócio simples, os dez primeiros da prova 1 invertem o grid para a prova 2 e vamos embora, todos com igualdade de condições de novo. Essa coisa de para no box, troca três pneus, o outro troca dois, o outro nenhum, aí tem um que poe combustível, o outro não. Aí no começo da 2ª prova, logo no início, vai um monte de gente para o box e adeus chance de vitória. Muita complicação, não precisa disso.

A Stock Car tem o ouro na mão: bons pilotos, mídia apoiando e pode correr em autódromos excelentes, como Goiânia ou Interlagos. Mas pode estar se perdendo em coisas que nem imagina.

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